E agora, José?

Na minha última noite em Curitiba saímos com as meninas. Tinha aquele clima de despedida mesmo, sempre que elas lembravam que eu ia embora faziam aquela cara (que o nosso cachorro faz quando a gente tá na porta pronta pra partir), me abraçavam assim meio de lado e resmungavam: não vai embora, não. Daí a banda do lugar começou a tocar aquela música do Lulu Santos: “eu tô voltando pra casaaaa”. Eu falei pra elas: minha música! E elas fizeram a cara e toda a seqüência de novo.

Pra mim voltar pro Rio fechava o ciclo. Era um passo necessário pra poder fazer um balanço dessa coisa meio frenética e meio zen que foi morar em Curitiba. Mas não era uma coisa que doía. Aliás, acho que partir nunca dói. Quando os outros partem é que é uma sangria desatada. Ir embora é uma sensação boa, na verdade, não é? De mudança, de superação, é como se você disesse pro mundo que não precisa dele, não, e que, se der, você volta.

E agora voltei, o Rio é lindo mas a rotina se reajusta depressa, a gente percorre longas distâncias todo dia e, se consegue chegar em casa de bom humor, encontra alguém com o humor abaixo de zero e é sempre difícil não deixar a matemática tomar conta e fazer a média. Tentei mudar o meu lugar de fazer natação, porque lá onde eu fazia era aberto, então sempre que chovia ou tinha frente fria eu ficava lá sendo batendo o queixo, mas depois de ter visitado outros 3 lugares cheguei à conclusão de que lá continua sendo o melhor custo/benefício. O que posso fazer é tentar ir mais de dia. Não sei se consigo por causa dessa parte obrigatória do internato. Que, aliás, não poderia ser mais enrolativa. Comecei por uma matéria em que a gente fica 1 mês alguns dias subindo o morro e entrando em casas com agentes de saúde e tendo aulas sobre sabe-se-lá-o-quê. Outro dia a professora passou “Ilha das Flores” e quis que a gente discutisse no contexto do SUS. E todo mundo meio sem graça de expor suas opiniões. Tinha mil coisas que poderia ter dito, mas fiquei em silêncio também. Pra poder ir pra Curitiba no primeiro semestre tive que mudar de turma e agora estou em uma em que não conheço quase ninguém. É estranho ter a certeza de que vou me formar em menos de 5 meses e não conheço nem metade das pessoas que se formam comigo. Nunca troquei uma palavra sequer com pelo menos um terço. É meio triste, mas não me incomoda, na verdade.

Mas o que aconteceu foi que eu fiquei doente. Depois de tanta arrumação com mudanças e vistoria de apartamento e correria, despedidas, parabéns com 1 semana de antecedência e principalmente da viagem relâmpago à floripa pra ver o Fluminense ser campeão da copa do brasil, uma gripe me derrubou e não poderia ter sido mais inconveniente, dada a quantidade de coisa que eu tinha pra arrumar. E ainda tivemos um preju enorme porque vendemos os ingressos pro show dos LH a preço de banana.

Balanço final: uma família nova bem divertida, quilos de informações ortopédicas armazenados no hipocampo, uns 5 amigos de verdade no sul do brasil, descobrir que eu vivo tão bem e direitinho sozinha, assistir ao vivo um título nacional tricolor com direito a vaga na libertadores, várias roupas novas bonitas, uma cicatriz de um corte que eu não fui suturar e, principalmente, finalmente, aprender que a gente pode se sentir plenamente em casa. Mesmo a 800km de distância.

(muitas fotos!)

Deixe um comentário